Luto e tratamento Psicológico

30/05/2014 12:19

Todas as pessoas que sofrem algum tipo de perda ou que têm a possibilidade de sofrer (morte de ente querido, diagnóstico de doença, falência, traição, punição criminal, etc.) passam por um processo de luto, para poder elaborar e lidar com essa situação.

Luto é uma palavra que acompanha o ser humano desde sempre, principalmente quando perdemos alguém de quem gostamos muito. É uma espécie de despedida forçada e para sempre. Mas afinal o que é o luto? Como se processa? É mesmo necessário esse doloroso processo?

O luto é um processo necessário e fundamental par preencher o vazio deixado por qualquer perda significativa não apenas de alguém, mas também de algo muito importante, como um objeto, uma viagem, um emprego, uma ideia, etc.

O processo de luto dá-se tanto em humanos como animais. Nos humanos o processo de luto é acompanhado por um conjunto de sentimentos, entre os quais: tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio, torpor, alívio e emancipação. Refletindo-se em sintomas físicos de vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, falta de ar, falta de energia, boca seca entre outros.

 

A psiquiatra suíça, Elisabeth Kubler-Ross pesquisou e trabalhou com esse tema e descreveu cinco fases desse processo de luto.

Essa descrição pode facilitar a compreensão e a percepção sobre o que ocorre com pessoas que vivenciam alguma forma de perda ou luto.

 

O luto/perda normalmente passa por 5 fases:

 

A negação- Surge a primeira fase do luto, é no momento que nos parece impossível a perda, em que não somos capazes de acreditar. A dor da perda seria tão grande, que não pode ser possível, não poderia ser real.

 

A raiva – A raiva surge depois da negação. Mas mesmo assim, apesar da perda já consumada negamo-nos a acreditar. Pensamento de “ porque a mim?” surgem nesta fase, como também sentimentos de inveja e raiva. Nesta fase, qualquer palavra de conforto, parece-nos falsa, custando acreditar na sua veracidade

 

A negociação- A negociação, surge quando o individuo começa a por a hipótese da perda, e perante isso tenta negociar, a maioria das vezes com Deus, para que esta não seja verdade. As negociações com Deus, são sempre sob forma de promessas ou sacrifícios.

 

A depressão – A depressão surge quando o individuo toma consciência que a perda é inevitável e incontornável. Não há como escapar à perda, este sente o “espaço” vazio da pessoa (ou coisa) que perdeu. Toma consciência que nunca mais irá ver aquela pessoa (ou coisa), e com o desaparecimento dele, vão com ela todos os sonhos, projetos e todas as lembranças associadas a essa pessoa ganham um novo valor.

 

A aceitação – Última fase do luto. Esta fase é quando a pessoa aceita a perda com paz e serenidade, sem desespero nem negação. Nesta fase o espaço vazio deixado pela perda é preenchido. Esta fase depende muito da capacidade da pessoa mudar a perspetiva e preencher o vazio.

 

As fases do luto, não possuem um tempo predefinido para acontecerem. Depende da perda e da pessoa. Porém sabe-se que a que leva mais tempo é da fase da depressão para a fase de aceitação, algumas pessoas levam décadas de vida e outras nunca conseguiram aceitar com serenidade a perda. Acontece principalmente no caso de perda de um filho.

Devemos sempre valorizar o que temos, enquanto o temos. Pois não sabemos quando o vamos deixar de ter. Curiosamente muitas vezes só nos apercebemos da importância de determinada pessoa ou coisa, quando a perdemos, porque o valor dessas pessoas ou coisas dilui-se no valor das coisas que a rodeiam. Essas pessoas ou coisas são tão subtis ao valorizarem o ambiente envolvente, que o seu próprio valor divide-se entre tudo o que a rodeia, tornando-se quase impercetível. Porém quando a perdemos, não a perdemos apenas a ela, mas muito do valor das coisas que a rodeavam e é aí que notamos a sua falta.

 

QUANDO PROCURAR UM PSICÓLOGO?

O luto vira o mundo da pessoa de cabeça para baixo e é uma das experiências mais dolorosas. Apesar disto, é uma parte da vida que todas as pessoas estão fadadas e geralmente não requer atenção profissional.  A depressão pode fazer parte do processo. O perigo desse estágio é o tempo de permanência contínua e o agravamento do quadro depressivo. Em pessoas com depressão prolongada ou com antecedentes de transtorno afetivo ou do humor, recomenda-se ajuda terapêutica. O psicólogo é um profissional capacitado que não irá ignorar a sua dor, apressar sua recuperação a qualquer custo, nem julgá-lo. Quando um paciente permiti em sessão terapêutica, pela 1ª vez, expressar toda a sua raiva e sua angústia, caindo num choro compulsivo, certamente obterá uma ótima recuperação. Ali se inicia um belo processo terapêutico de conciliação dele com a sua história. Essa é a função do psicólogo: estar ao seu lado para auxiliá-lo a passar adequadamente por todas as fases do luto, mas sempre respeitando o ritmo de cada SER. Um bom profissional ajudará o enlutado a ter senso de confiança e energia renovado, ajudará a desenvolver habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. No entanto, a dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e com significados e propósitos renovados, pois quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele. Por fim, o psicólogo ajudará aquele que sofre a ter compreensão intelectual, mas, sobretudo elaborar aspectos emocionais e por que não dizer, também espirituais. Ou seja: além de entender na mente, o psicólogo ajudará a entender no coração uma verdade inequívoca: que o ente querido morreu.